Absorve-me mas em várias fracções

terça-feira, 19 de julho de 2016

Suicidio


Toda sociedade apresenta uma série de temas tabu, isto é, temas que fazem parte da nossa realidade, mas que por serem dolorosos demais preferimos não conversar sobre eles. Mas ignorar um assunto não o torna inexistente.
Deveríamos debater mais sobre tudo o que aflige a raça humana, tentando entender as motivações de quem já pensou seriamente ou até mesmo já tentou cometer o suicídio. Se para muitos a depressão já é um tema constrangedor, imaginem falar sobre alguém que cortou os pulsos ou fez uma mistura inusitada de medicamentos?
Porém, a depressão é o mal do nosso século e em poucos anos muito mais pessoas serão acometidas por esta doença incapacitante, que faz o sol ficar preto e branco. Depressão não é o mesmo que tristeza. Embora, muitas vezes, uma grande tristeza ou perda possa desencadear um processo depressivo.
Depressivos precisam de ajuda médica, remédios, terapia, muito carinho e compreensão. Depressivos não precisam ser julgados ou ignorados. Depressão não é doença contagiosa, embora a convivência com alguém deprimido possa nos afetar, principalmente quando amamos profundamente esta pessoa.
Muitos depressivos pensam em acabar com a própria vida. Muita gente acredita que o suicídio é um ato de extremo egoísmo pois quem deseja se matar não leva em conta a perda que parentes e amigos irão sofrer. É importante ressaltar que o suicida não tem interesse em magoar. Ele simplesmente quer se livrar de uma dor que para ele é intolerável. Julgar um depressivo com vontade de se matar como um egoísta é um julgamento cruel. A percepção do suicida fica muito alterada pela doença e ele precisa ser amparado e amado.
Em fóruns da internet, pessoas pedem dicas de misturas de medicamentos que levam à morte. Algumas pessoas gentis tentam dar bons conselhos, acalmar o coração de quem está alimentando ideias mórbidas. Por outro lado, encontramos comentários de uma crueldade ímpar, em que os autores ridicularizam quem quer morrer.
Quem pensa seriamente em suicídio já está com a autoestima baixa. Ser ridicularizado o torna ainda mais vulnerável. A nossa sociedade precisa começar a entender que problema psicológico é coisa séria sim. Não se resolve depressão lavando roupa. As pessoas não deprimem por falta do que fazer. E é um mito dizer que quem afirma querer se matar, não vai se matar. Muita gente tenta sim o suicídio depois de expor o seu desejo com todas as letras.
Suicídio não é tema engraçado, mas também não deveria ser considerado um tabu. Faz parte da vida como o amor, a paixão, o medo. Também me parece um pouco precipitado taxar um suicida como um simples covarde que não aguenta os trancos da vida. Algumas pessoas por alguma razão que não conheço vem sem as blindagens necessárias para sobreviver à indiferença e à frieza do mundo. Somos preparados para engolirmos e negarmos a própria dor. Homem não pode chorar. Não pode ser sensível. Na verdade, deveríamos ser preparados para desenvolver o amor maior, a piedade, a compreensão que transcende as nossas crenças. Não é porque não sentimos uma dor ou um impulso que ele não possa existir no outro.
Deprimidos , bulímicos , anoréxicos, fóbicos são pessoas como outras quaisquer. Eles não são a sua doença. Confundir um depressivo com a depressão é o mesmo que definir alguém pela sua gastrite ou por sua faringite crônica. Atrás da doença, existe um ser humano extremamente sensível e cheio de qualidades que merecem ser apreciadas. Mas para que para tais qualidades voltem a brilhar, precisamos ajudá-los e amá-los com todo nosso coração.


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7 comentários:

  1. Não considero o suicida um cobarde. Pelo contrário, acho que é preciso uma grande coragem para acabar com a única vida que temos.

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    1. Fiz duas teses sobre o suicidio, é um misto quanto a mim e são imensos os fatores

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  2. A doença, a depressão profunda e outros males e patologia nos levam a isso....
    Por isso o post é legal... precisamos ajudar a quem precisa!!!

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  3. Conheço duas histórias verdadeiras a respeito, que nos leva a pensar nos aspectos do suicídio:
    Uma garota querendo suicidar-se jogou-se no rio, enquanto se debatia na água, recusava as cordas e bóias que as pessoas lhe jogam da margem. Um policial vendo aquilo, sacou a arma e a ameaçou com a mesma: - "Ou você sai da água ou te dou um tiro”! Prontamente a suicida com muito esforço, nadou até a margem e salvou-se.
    Numa outra história, um rapaz entrou na linha do metrô e desceu para o trilho, o maquinista que estava atento, viu a tempo de parar o trem. Logo depois perguntou ao rapaz o que ele fazia ali e o rapaz disse que queria se matar por que a esposa havia o deixado. Então, o maquinista responde-lhe: - Sai daí, ou vou te matar de tanto te dar sopapos! e o rapaz respondeu novamente: - Calma moço, não precisa ficar nervoso, já estou saindo!
    As duas histórias mostram que o suicida quer matar-se, não quer ser morto!
    Isto por que, o suicída quer morrer, mas também quer viver e está em conflito, comumente uma ajuda ou até uma ameaça (como nos casos) podem, na maioria das vezes, dissuadi-los e mudar a direção a ser tomada.
    O suicida sofre e faz sofrer, não sabe o que representa a sua atitude, procura escapar de um sofrimento insuportável, real ou até mesmo, fantasiado por ele, de causas internas ou externos.
    A tentativa de suicidio é sempre uma mensagem, uma maneira de comunicar suas dores e pedir ajuda, quase nunca ouvido, quando levado ao extremo!
    BJOS

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  4. Fiz 2 teses de fim de curso sobre o suicídio. Estudei o tema exaustivamente, não é à toa que em 1987, Emile Durkheim criou a Sociologia como ciência social. Temos que estar atentos e saber a diferença entre para-suicídio.

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Odeio as almas estreitas, sem bálsamo e sem veneno, feitas sem nada de bondade e sem nada de maldade.Nietzsche
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