Não se sabe para onde virar os olhos quando só a angústia é
pura. A cama às mãos atada. Uma laranja sobre o tabuleiro da cozinha quase
desequilibra uma paisagem. Nos quartos interditos as mãos vão encerradas nos
bolsos. A beleza é um perigo, algo nefasto que conduz ao delírio. Tudo o que
está a mais dói. Sobretudo dói o doer da navalha. Chegar e não encontrar nada.
Unicamente as coisas nos lugares exactos. Não há um sopro dentro de casa. Há
uma coisa que se perdeu por descuido. Não vale de nada correr para nenhum lado.
Entretanto o medo atravessa lentamente a sala. No meio, no interior de tudo. À
contra luz a pele fica anulada, projecta sombras no branco das paredes. As
paredes suspendem esta casa como a cabeça agarra um corpo. Um truque de magia.
Ficar por aqui eternamente mudo, é um destino. O mar bate
muito ao longe. Todas as coisas foram feitas para serem desmembradas e depois
reconstruídas. Entra aqui o artífice com a suas mãos de prata. De natural tudo
nos falta. Uma máquina empina-se e larga uivos. O artificial é um logro, um
produto imaginário. Somos feitos de pó que deixou de ser feito. Entretanto
perdeu-se a palavra. Mais vale escapar para o lugar onde não seremos vistos. A
traição que nos agarra pelas costas. A alegria breve. O que ficou por dizer. Os
dias felizes. Isto assim.
O poder da Natureza é infinito. Eu sou natural...
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Odeio as almas estreitas, sem bálsamo e sem veneno, feitas sem nada de bondade e sem nada de maldade.Nietzsche
Deixa aqui algum bálsamo.