(...)
O que era preciso era continuar. Continuar a mentir o mais
perfeitamente, sem qualquer deslize, usando todos os recursos da imaginação, mas agora sem o antigo prazer de derrotar a realidade, antes
uma angústia cada vez maior a crescer-lhe no peito, o que o obrigava a
procurar a alívio nos químicos que minuciosamente doseava, porque nada
devia transparecer na sua cara que o pudesse trair. Era preciso mentir
sobre a mentira e continuar. Sentia-se esgotado, mas a paixão fazia-o
continuar. Se não há uma verdadeira vida também não pode haver uma
verdadeira morte. Se calhar teria sempre de continuar. Este pesadelo
fê-lo estremecer e abrir os olhos que julgava abertos. Escurecera.
Procurou o interruptor do candeeiro e uma luz azulada encheu o quarto.
Que horas seriam? Ela não devia tardar.
Levantou-se de um pulo, abriu as torneira do duche, foi à cozinha
buscar um copo de água e, de pé, engoliu quatro comprimidos. Ele ia
aguentar. Nada era verdade. A água corria. Ele tinha de continuar.
“O que amamos está condenado a morrer. E, no entanto, continuamos como se o não soubéssemos.”
Súbita aflição, O mundo é tudo o que acontece
Sou uma força da natureza, não tentes destruir - me...
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Odeio as almas estreitas, sem bálsamo e sem veneno, feitas sem nada de bondade e sem nada de maldade.Nietzsche
Deixa aqui algum bálsamo.