Hoje, ia a 200 para uma farmácia e à porta da farmácia estava um sem abrigo, a comer sofregamente uma refeição. Voltei ao carro e fui buscar um saco que em tempos, depois de um comentador do meu blog relatar um "tenho fome" na Almirante Reis, pus na bagageira para esta situação. Dei o saco ao sr, e €10. Tinha leite, bolachas e cereais. O senhor disse: Obrigado. e voltou a enfiar a cara na refeição, quando saí da farmácia, desejei-lhe boa sorte e ele disse-me: " a menina assegurou-me mais um dia de vida"...
Cheguei ao carro e chorei, chorei e perguntei: "A minha vida, quem me assegura"?
NÃO SOU SUPERIOR, SUPERO-ME!
Passei por aqui para agradecer o comentário que, também num dia - quantos dias poderá ter um dia? - difícil me "roubou" um sorriso à boca sisuda e aos olhos por norma tristes. É sempre bom sabermos que de uma forma ou d'outra podemos minorar a tristeza de alguém, mesmo de um perfeito desconhecido. Não vinha era preparado para isto, um espaço onde cada letra surge no espaço certo, dando origem a palavras que parecem ter sons e cheiros e onde me senti como uma criança numa enorme casa de gelados. Simples, muito mais do que costumam ser os meus comentários, este post exemplifica na perfeição que todos nós podemos fazer alguma coisa, pouco que seja, mas de tanto valor para quem pouco ou nada tem. Fizeste-me acreditar com mais força em amanhãs mais soalheiros. Obrigado.
ResponderEliminarAcho que te sentirás bem, nesta "Casa de gelados" que é o meu mundo. O agradecimento é mútuo... e agora, temo-nos "à perna"... lol
ResponderEliminarObrigada, um beijo doce
essa pergunta que fizeste a resposta encontras dentro de ti mesma, e o caminho que te leva a essa resposta são pequenitas pedritas que vais colhendo com acções como a que tiveste hoje... Tiveste um acto fraterno e não caridoso, quando temos um acto caridoso criamos uma desigualdade porque temos algo que generosamente damos a alguém que não tem, não acredito em pessoas caridosas mais tarde ou mais cedo somos cobrados, o teu acto foi fraterno porque trataste alguém de igual para igual... tu asseguraste a vida de alguém por mais um dia e esse alguém fez o mesmo por ti ao fazer-te chegar ao carro e fazer-te e chorar e pensar as vossas fomes apesar de diferentes se calhar eram iguais.
ResponderEliminarHoje tiveste sorte fizeste uma pergunta em que só tu podes responder e mais ninguém, para escuta e olha mas não para fora mas sim para dentro, para mas não com o corpo, escuta mas não com os ouvidos e olha mas não com os olhos
eu costumo guiar a minha mota pelas ruas da cidade à noite... vêr os sem abrigo, falar com eles, ouvi-los, levo a minha mochila carregada de leite e pão... sinto-me bem!
ResponderEliminarKuís, o texto acima mostra as minhas respostas se substituires escrita por uma imagem de ser humano enquanto sre vivo e não com sentido de humanidade
ResponderEliminar"Dr.
ResponderEliminardói-me o peito
do cigarro
do bagaço
do catarro
do cansaço
dói-me o peito
do caminho
de ida e volta
do meu quarto
à oficina
sem parar
sempre a andar
sempre a dar
dói-me o peito
destes anos
tantos anos
de trabalho
e combustão
dói-me o luxo
dói-me os fatos
dói-me os filhos
dói-me o carro
de quem pode
e eu a pé
sempre a pé
dói-me a esperança
dói-me a espera
pelo aumento
pela reforma
pelo transporte
pela vida e pela morte.
Dr.
já estou farto
de não ser
mais que um braço
para alugar
foi-se a força
e o meu corpo
é como o mosto pisado
como um pássaro insultado
por não poder mais voar.
Dr.
eu não sei ler
os caminhos
por dentro
dos hospitais
mas alguém há-de aprender
entre as rugas do meu rosto
o que não vem nos jornais
e não há nada no mundo
nem discurso
nem cartaz
capaz de gritar mais alto
que as palmas das minhas mãos
que o meu sorriso sem jeito,
Dr.
Dói-me o peito…"
José Fanha.
E dói o peito...
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