Absorve-me mas em várias fracções

quinta-feira, 30 de setembro de 2021

José

E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, você?

você que é sem nome,

que zomba dos outros,

você que faz versos,

que ama, protesta?

e agora, José?

(...)

José, e agora?

Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse...

Mas você não morre,

você é duro, José!

Sozinho no escuro

qual bicho do mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha, José!

José, para onde?

 

Carlos Drummond de Andrade




2 comentários:

  1. É o que estamos todos a perguntar Pinkinha!!!!
    Vim aqui deixar meu carinho eterno para essa mocinha linda e doce!!!
    Um beijinho!!!!!!!

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    1. PDR, tantas saudades tuas meu amigo do coração.Beijos grandes

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Odeio as almas estreitas, sem bálsamo e sem veneno, feitas sem nada de bondade e sem nada de maldade.Nietzsche
Deixa aqui algum bálsamo.