Quando apareceram os telemóveis fui logo apanhado e
tornei-me um viciado. Cheguei a ter três: um para assuntos profissionais, outro
para assuntos privados e um terceiro para ligações internacionais – tinha na
altura uma suave noiva que vivia em Palermo. Parecia um pistoleiro e
aconteceu-me várias vezes falar por dois ao mesmo tempo, ou não saber com quem
falava e continuar a falar, ou confundir sem perdão a voz da minha amada.
Aguentei alguns anos, sete precisamente. Acordava e já tinha uma dúzia de mensagens
que exigiam resposta. Passava o dia literalmente ao telefone e, enfim,
precisava de trabalhar. Numa certa manhã de Agosto acordei agastado. Ouvi as
mensagens – quatro da Sicília criticando o meu silêncio – e afundei-os um a um,
com um prazer sádico, na banheira repleta de água. Assim se dissolveram as suas
memórias e todas as mensagens. Desejava saber quem de facto era meu amigo não
portátil. Recuperei alguns pelo preço de perder a distante namorada. Os
protestos não me abalaram. Um homem sem telemóvel é um ser mais tranquilo
desligado da corrente.
Pedro Paixão
Por acaso, também eu, em 2001, enchi um recipiente com água a ferver e afundei, como diz Pedro Paixão, um telemóvel, que era exclusivo para falar com o namorado da altura.
Sou uma força da natureza, não tentes destruir - me...
Belo texto!
ResponderEliminarPor vezes, precisávamos de voltar o tempo antigo. Refiro-me o antes dos telemóveis e computadores. Para ter uma vida mais calma e saudável! Digo eu, que não vivo sem isso.!
Beijoos
Eu em casa tenho o PC ligado mas não me apanham na rua a olhar para a net...
EliminarAfundaste o telemóvel só para não o afugares a ele será?
ResponderEliminarbeijito
Para me obrigar a deixar de contactar essa pessoa...
EliminarIsso é que foi definitivo, bolas!! A não ser que soubesses o número de cor :p
ResponderEliminarNão sabia e nunca mais o vi.
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