Absorve-me mas em várias fracções

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Igreja e homossexualidade

Por Prof. Dr. Daniel Helminiak

Nenhum argumento religioso contra a homossexualidade sobrevive a uma análise crítica. Qualquer motivo religioso padrão não é mais do que ficção, fruto de convicções cegas. O "argumento" é somente uma preferência pessoal, uma posição apoiada por uma "escolha" e não por "argumentos racionais". A Religião é, assim, uma máscara usada para encobrir o preconceito.

A Bíblia NÃO condena a homossexualidade

As investigações científicas mais recentes demonstraram e denunciaram erros de tradução e de interpretação nas passagens que dizem respeito à homossexualidade. A maioria define claramente, como por exemplo em Ezequiel 16, 48-49 e no Livro da Sabedoria 9, 13-14, qual foi o pecado de Sodoma (Génesis 19): orgulho, ódio, abuso, dureza de coração. Sexo nunca é mencionado. Também o termo "não natural", por exemplo, que encontramos na Carta aos Romanos 1, 28-29 devia ter sido traduzido pelos termos "atípico" ou "não convencional". A Bíblia, se lida em coerência com os seus próprios termos e contexto, não apresenta nenhuma condenação explícita dos actos homossexuais. Ver D. A. Helminiak, What the Bible Really Says About Homossexuality, Alamo Press, 1994.

O Cristianismo NÃO se opôs sempre à homossexualidade

Até cerca de 1200, excepto no período por volta da altura da queda do Império Romano, a homossexualidade era, em geral, aceite na Europa cristã. No século VII, na Espanha Visigoda, uma série de seis conselhos nacionais da Igreja recusaram-se a apoiar a legislação do soberano contra actos homossexuais. No século IX códigos penais extensos por toda a Europa tratavam de questões sexuais detalhadamente, mas nenhum fora de Espanha proibía actos homossexuais. Pela altura da Alta Idade Média existia uma sub-cultura gay emergente e um corpo de literatura gay padrão estudada nas Universidades dirigidas pela Igreja. Ver J. Boswell em Christianity, Social Tolerance and Homosexuality, University Chigago Press, 1980.

Na prática da Igreja, procriação NÃO é essencial para ter relações sexuais

A filosofia estóica defendia que a concepção de bebés era a única razão eticamente aceitável para ter relações sexuais. O Cristianismo desde cedo incorporou esta noção na sua doutrina e algumas igrejas invocam-na para condenar a homossexualidade. Contudo, muitas destas igrejas permitem o uso de contraceptivos e permitem o casamento (e relações sexuais) entre casais que sabem serem estéreis ou entre casais que já ultrapassaram a idade para procriar. Até mesmo a Igreja Católica enfatizou recentemente a importância da união emocional e da partilha do amor como centrais para a intimidade sexual. Evidentemente, as igrejas não acreditam que a única e principal razão para a intimidade sexual é a procriação.

O argumento da "complementaridade" NÃO é coerente


Supostamente a complementaridade dos sexos é um requisição estabelecida por Deus para os relacionamentos sexuais. Mas a "masculinidade" e "feminilidade" são estereótipos. Na realidade, as características da personalidade das pessoas são mistas e abrangem tanto a esfera do masculino e como a esfera do feminino. Quaisquer duas pessoas, heterossexuais ou homossexuais, podem facilmente qualificar-se como complementares nalgumas características psicológicas, ou noutras. Deste modo, a complementaridade em questão só pode ser biológica. Ora, apelar à complementaridade é só uma maneira de dizer que só uma mulher e um homem podem partilhar a intimidade sexual. Logo, o verdadeiro argumento é este: as relações sexuais homossexuais são erradas porque sexo entre um homem e uma mulher é que está certo; casais homossexuais não podem partilhar nenhuma intimidade sexual porque não são heterossexuais. O argumento não explica nada, é circular, a verdadeira questão fica por responder. Indo um pouco mais longe, o argumento da complementaridade afirma que o único acto sexual permissível é a relação sexual entre pénis e vagina, mas não apresenta nenhuma razão para esta afirmação (na qual poucos acreditam, de qualquer modo).

A homossexualidade NÃO é uma doença

A Religião afirma que a homossexualidade é uma aberração em relação à ordem da criação de Deus. Contudo, a maioria das investigações científicas - zoológica, médica, psicológica, sociológica e antropológica - mostram que a homossexualidade é uma variante normal. Não só é prevalente em muitas espécies animais, como nos humanos a homossexualidade tem uma base biológica, é fixada no início da infância e presente em praticamente todas as culturas conhecidas. Não há nenhuma prova credível de que a orientação sexual pode - ou deve - ser modificada. A não ser que ser simplesmente homossexual em si venha a ser considerado como uma patologia com que se nasce, a ciência actual não é capaz de detectar nada de "doente" na homossexualidade e considera-a parte do mundo que Deus criou.

Os homossexuais NÃO são irreligiosos

Muitas pessoas condenam os homossexuais afirmando que são contra Deus e pecadores, mas os homossexuais cristãos contemporâneos reconhecem a sua auto-aceitação como fruto da graça de Deus. Eles testemunham que desde que "se assumiram" sentem-se mais felizes, mais saudáveis, mais produtivos, mais afectuosos, mais em paz, mais alegres e mais próximos das outras pessoas - e mais próximos de Deus. De acordo com o critério de Jesus "Pelos seus frutos os reconhecerás" (Mateus 7, 16) os homossexuais cristãos devem ser verdadeiros profetas do nosso tempo. Pelo contrário, colocar a tónica nos piores elementos e exemplos da comunidade homossexual - ou heterossexual - é uma maneira injusta de avaliar a questão.

*Traduzido de "Religious Arguments Against Homosexuality" in http://www.visionsofdaniel.com



Não sou superior, supero-me.

2 comentários:

  1. Esse professor falou de interpretações, mas fez ele próprio uma interpretação. Para que se saiba, também existem associações ligadas à Igreja que trabalha e ajuda os homossexuais.

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  2. Posso dizer que tenho alguns preconceitos, porque ninguém está imune a tê-los, consciente ou inconscientemente, mas não é certamente contra os homossexuais dos quais até tenho alguns amigos.

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Odeio as almas estreitas, sem bálsamo e sem veneno, feitas sem nada de bondade e sem nada de maldade.Nietzsche
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