Absorve-me mas em várias fracções

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Dar/assegurar/chorar

Hoje, ia a 200 para uma farmácia e à porta da farmácia estava um sem abrigo, a comer sofregamente uma refeição. Voltei ao carro e fui buscar um saco que em tempos, depois de um comentador do meu blog relatar um "tenho fome" na Almirante Reis, pus na bagageira para esta situação. Dei o saco ao sr, e €10. Tinha leite, bolachas e cereais. O senhor disse: Obrigado. e voltou a enfiar a cara na refeição, quando saí da farmácia, desejei-lhe boa sorte e ele disse-me: " a menina assegurou-me mais um dia de vida"...
Cheguei ao carro e chorei, chorei e perguntei: "A minha vida, quem me assegura"?



NÃO SOU SUPERIOR, SUPERO-ME!

7 comentários:

  1. Passei por aqui para agradecer o comentário que, também num dia - quantos dias poderá ter um dia? - difícil me "roubou" um sorriso à boca sisuda e aos olhos por norma tristes. É sempre bom sabermos que de uma forma ou d'outra podemos minorar a tristeza de alguém, mesmo de um perfeito desconhecido. Não vinha era preparado para isto, um espaço onde cada letra surge no espaço certo, dando origem a palavras que parecem ter sons e cheiros e onde me senti como uma criança numa enorme casa de gelados. Simples, muito mais do que costumam ser os meus comentários, este post exemplifica na perfeição que todos nós podemos fazer alguma coisa, pouco que seja, mas de tanto valor para quem pouco ou nada tem. Fizeste-me acreditar com mais força em amanhãs mais soalheiros. Obrigado.

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  2. Acho que te sentirás bem, nesta "Casa de gelados" que é o meu mundo. O agradecimento é mútuo... e agora, temo-nos "à perna"... lol
    Obrigada, um beijo doce

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  3. essa pergunta que fizeste a resposta encontras dentro de ti mesma, e o caminho que te leva a essa resposta são pequenitas pedritas que vais colhendo com acções como a que tiveste hoje... Tiveste um acto fraterno e não caridoso, quando temos um acto caridoso criamos uma desigualdade porque temos algo que generosamente damos a alguém que não tem, não acredito em pessoas caridosas mais tarde ou mais cedo somos cobrados, o teu acto foi fraterno porque trataste alguém de igual para igual... tu asseguraste a vida de alguém por mais um dia e esse alguém fez o mesmo por ti ao fazer-te chegar ao carro e fazer-te e chorar e pensar as vossas fomes apesar de diferentes se calhar eram iguais.
    Hoje tiveste sorte fizeste uma pergunta em que só tu podes responder e mais ninguém, para escuta e olha mas não para fora mas sim para dentro, para mas não com o corpo, escuta mas não com os ouvidos e olha mas não com os olhos

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  4. eu costumo guiar a minha mota pelas ruas da cidade à noite... vêr os sem abrigo, falar com eles, ouvi-los, levo a minha mochila carregada de leite e pão... sinto-me bem!

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  5. Kuís, o texto acima mostra as minhas respostas se substituires escrita por uma imagem de ser humano enquanto sre vivo e não com sentido de humanidade

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  6. "Dr.
    dói-me o peito
    do cigarro
    do bagaço
    do catarro
    do cansaço

    dói-me o peito
    do caminho
    de ida e volta
    do meu quarto
    à oficina
    sem parar
    sempre a andar
    sempre a dar
    dói-me o peito
    destes anos
    tantos anos
    de trabalho
    e combustão

    dói-me o luxo
    dói-me os fatos
    dói-me os filhos
    dói-me o carro
    de quem pode
    e eu a pé
    sempre a pé

    dói-me a esperança
    dói-me a espera
    pelo aumento
    pela reforma
    pelo transporte
    pela vida e pela morte.


    Dr.
    já estou farto
    de não ser
    mais que um braço
    para alugar
    foi-se a força
    e o meu corpo
    é como o mosto pisado
    como um pássaro insultado
    por não poder mais voar.


    Dr.
    eu não sei ler
    os caminhos
    por dentro
    dos hospitais
    mas alguém há-de aprender
    entre as rugas do meu rosto
    o que não vem nos jornais
    e não há nada no mundo
    nem discurso
    nem cartaz
    capaz de gritar mais alto
    que as palmas das minhas mãos
    que o meu sorriso sem jeito,


    Dr.
    Dói-me o peito…"


    José Fanha.

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Odeio as almas estreitas, sem bálsamo e sem veneno, feitas sem nada de bondade e sem nada de maldade.Nietzsche
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