Absorve-me mas em várias fracções

sábado, 12 de dezembro de 2009

Não sei quantas almas tenho, Fernando Pessoa


Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: <>
Deus sabe, porque o escreveu.

5 comentários:

  1. Excelente este seu espaço. Qualidade literária e fotográfica.

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  2. ja me senti assim, hoje em dia só tenho uma alminha mas muitos estados de espirito... consome demasiado uma pessoa aturar varias almas.

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  3. Adoro Fernando Pessoa..

    Espero que entretanto já nos possas dar um sorriso =)

    BJ**

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  4. Então e uma alma para muitos corpos? dá pobrezinhos de espirito!!!
    Já estou sorridente, esta merda de gostar de mim é uma maravilha...

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Odeio as almas estreitas, sem bálsamo e sem veneno, feitas sem nada de bondade e sem nada de maldade.Nietzsche
Deixa aqui algum bálsamo.