Absorve-me mas em várias fracções

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

DEMAIS

O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional à
quantidade de "f+++!" que ela diz.
Existe algo mais libertário do que o conceito do "f+++!"?
O "f+++!" aumenta a minha auto-estima, torna-me uma
pessoa melhor.
Reorganiza as coisas. Liberta-me.
"Não quer sair comigo?! - então, f++++!"
"Vai querer mesmo decidir essa merd@ sozinho(a)?! - então,
f++++++!"
O direito ao "f+++++!" deveria estar assegurado na Constituição.
Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos
extremamente válidos e criativos para dotar o nosso vocabulário
de expressões que traduzem com a maior fidelidade os nossos
mais fortes e genuínos sentimentos. É o povo a fazer a sua
língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que
vingará plenamente um dia.
"Comó c+++", por exemplo. Que expressão traduz melhor a
ideia de muita quantidade que "comó c+++"?
"Comó c++++" tende para o infinito, é quase uma expressão
matemática.

A Via Láctea tem estrelas comó car!
O Sol está quente comó ca!
O universo é antigo comó ca!
Eu gosto do meu clube comó ca!
O gajo é parvo comó ca!
Entendes?
No género do "comó caralho", mas, no caso, expressando a
mais absoluta negação, está o famoso "nem que te fodas!".
Nem o "Não, não e não!" e tão pouco o nada eficaz e já sem
nenhuma credibilidade "Não, nem pensar!" o substituem.
O "nem que te f+++!" é irretorquível e liquida o assunto.
Liberta-te, com a consciência tranquila, para outras atividades
de maior interesse na tua vida.
Aquele filho  de 17 anos atormenta-te pedindo o carro
para ir  na praia? Não percas tempo nem paciência.
Solta logo um definitivo:
"Huguinho, presta atenção, filho querido, nem que te f+++!".
O impertinente aprende logo a lição e vai para o Centro
Comercial encontrar-se com os amigos, sem qualquer problema,
e tu fechas os olhos e voltas a curtir o CD (...)
Há outros palavrões igualmente clássicos.
Pense na sonoridade de um "**** que pariu!", ou o seu
correlativo "P-t-que-o-pa-riu!", falado assim, cadenciadamente,
sílaba por sílaba.
Diante de uma notícia irritante, qualquer "****-que-o-pariu!", dito
assim, põe-te outra vez nos eixos.
Os teus neurónios têm o devido tempo e clima para se
reorganizarem e encontrarem a atitude que te permitirá dar um
merecido troco ou livrares-te de maiores dores de cabeça.
E o que dizer do nosso famoso "vai levar no c+!"? E a sua
maravilhosa e reforçadora derivação "vai levar no olho do c+!"?
Já imaginaste o bem que alguém faz a si próprio e aos seus
quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de
seu interlocutor e solta:
"Chega! Vai levar no olho do c+!"?
3
Pronto, tu retomaste as rédeas da tua vida, a tua auto-estima.
Desabotoas a camisa e sais à rua, vento batendo na face, olhar
firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado
amor-íntimo nos lábios.
E seria tremendamente injusto não registar aqui a expressão de
maior poder de definição do Português Vulgar: "F++++!". E a
sua derivação, mais avassaladora ainda: "Já se f+++!".
Conheces definição mais exata, pungente e arrasadora para
uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de
ameaçadora complicação?
Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere o seu autor
num providencial contexto interior de alerta e auto-defesa. Algo
assim como quando estás a sem documentos do carro, sem
carta de condução e ouves uma sirene de polícia atrás de ti a
mandar-te parar. O que dizes? "Já me f+++!"
Ou quando te apercebes que és de um país em que quase nada
funciona, o desemprego não baixa, os impostos são altos, a
saúde, a educação e … a justiça são de baixa qualidade, os
empresários são de pouca qualidade e procuram o lucro fácil e
em pouco tempo, as reformas têm que baixar, o tempo para a
desejada reforma tem que aumentar … tu pensas “Já me f+++!”
Então:
Liberdade,
Igualdade,
Fraternidade
e
f+++++!!!
Mas não desespere:
Este país … ainda vai ser “um país do ca...!”
Atente no que lhe digo!

Millôr Fernandes
NÃO SOU SUPERIOR, SUPERO-ME!

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Odeio as almas estreitas, sem bálsamo e sem veneno, feitas sem nada de bondade e sem nada de maldade.Nietzsche
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